Não é por desprezo, nem por intolerância

Tenho refletido bastante sobre as relações homoafetivas, e embora eu reconheça o direito de cada pessoa de viver o amor como lhe parece verdadeiro, admito que ainda não lido bem com isso. Não é por desprezo, nem por intolerância — longe disso. É um desconforto silencioso, que nasce mais de mim do que do outro. 

Fui formado dentro de uma cultura que pouco falava sobre esse tipo de relação, e quando falava, muitas vezes era com preconceito. Hoje, tento me desvencilhar dessas amarras, mas não posso fingir que ainda não superei todas elas. Ainda me pego tentando entender, tentando me acostumar, tentando acolher de forma plena. 

Vejo pessoas homoafetivas vivendo com dignidade, afeto e respeito — e isso, por si só, já deveria ser suficiente para qualquer julgamento cair por terra. Mas há uma distância entre o que a razão me mostra e o que o coração ainda hesita em aceitar com naturalidade. 

Estou em processo. E nesse processo, o que posso oferecer é respeito. Mesmo que eu não compreenda totalmente, mesmo que eu ainda me sinta desconcertado, jamais negarei a humanidade, o valor e a liberdade de quem escolhe amar diferente de mim. Talvez um dia esse desconforto se dissolva por completo. Até lá, sigo tentando ser melhor do que fui ontem.

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