Fé com Consciência: O que acontece depois


Desde cedo fui instruído nos moldes da religião cristã protestante, sempre ouvi que a Bíblia é a palavra de Deus e que tudo ali deve ser aceito sem questionar. Mas com o tempo, percebi que é possível — e até necessário — pensar por conta própria. Mas isso não aconteceu de uma hora para outra. Gradativamente, minha mente foi se tornando mais curiosa para encontrar resposta e para isso foi necessário aprender a fazer perguntas. Essas perguntas foram abrindo caminhos para novos modos de pensar. E Não paro de fazer perguntas. Respostas prontas não me satisfazem, porque para mim poder perguntar é libertador. Um dos autores, cujos textos provocam a minha vontade perguntar é Thomas Paine, um pensador que me fez enxergar a fé de um jeito diferente: mais racional, mais humano.

Paine não atacava a fé em si, mas sim os exageros e as contradições que muitas vezes vêm das instituições religiosas. Ele acreditava que a verdadeira religião está na nossa conexão com o Criador, na prática da justiça, da bondade e da razão. E que não devemos aceitar tudo só porque está escrito ou porque alguém com autoridade disse e pronto.

Uma coisa que me marcou foi saber que Jesus, apesar de ser uma figura tão importante, nunca escreveu nada. Alguém pode dizer, e daí? A questão é que para mim, isso importa. Tudo o que sabemos sobre ele veio de outras pessoas, que escreveram anos depois de sua morte. Isso me fez pensar: como podemos ter certeza de que tudo foi contado da forma correta? Não estou questionando a existência de Jesus, mas o modo como as narrativas sobre ele foram contadas.

Além disso, Paine fala sobre como a Igreja, ao longo dos séculos, criou ideias que nem estão na Bíblia — como o purgatório ou a venda de indulgências. Lembrando que a Bíblia que temos hoje é uma coleção de textos selecionados por está mesma Igreja que criou ideias que não estão no Livro Sagrado. Como confiar então que ideias contidas neste Livro não foram editadas? 

Paine mostra que muitas dessas ideias foram criadas para controlar as pessoas ou ganhar dinheiro, e não para aproximá-las de Deus. Isso me fez refletir sobre o que é realmente essencial na fé: será que é seguir regras sem pensar, ou viver com consciência e compaixão?

Outra parte que me tocou foi sobre a ressurreição. Paine diz que a prova mais forte da vida após a morte não está em milagres ou histórias antigas, mas na esperança que isso traz para quem acredita. A ideia de que existe algo além da morte pode dar sentido à vida, consolo na dor e força para seguir em frente. E isso, para mim, é muito mais poderoso do que qualquer argumento teológico.

A esse respeito, quando penso na frase de Antoine-Laurent de Lavoisier — “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” — sinto que ela fala sobre continuidade. Mesmo depois da morte, algo de nós permanece, muda de forma, mas não desaparece. Quando eu morrer, meu corpo vai passar por um processo natural chamado decomposição. Primeiro, minhas células começam a se desfazer, e bactérias que já vivem dentro de mim ajudam a quebrar tudo. Com o tempo, meu corpo se transforma em líquidos, gases e nutrientes. Esses elementos voltam para o solo, alimentam plantas e microrganismos, e entram novamente no ciclo da vida. Meus ossos demoram mais para desaparecer, mas também acabam virando minerais. Eu voltarei para a natureza, ajudando outras formas de vida a crescer. Isso faz parte das Leis que o Eterno estabeleceu.

O deísmo acredita que Deus criou tudo com sabedoria e deixou o universo seguir seu curso. Isso me faz imaginar que, ao morrer, voltamos à natureza como energia, matéria e memória impressa na alma de outras pessoas. Não é um fim assustador, mas uma transformação tranquila. Saber que fazemos parte de algo maior me conforta e me inspira a viver com propósito e respeito por tudo ao redor. 

Enfim, o que estou aprendendo com Thomas Paine é que questionar não é falta de fé — é sinal de maturidade. É querer entender melhor, buscar a verdade e não se contentar com respostas prontas. A fé, quando pensada com liberdade, se torna mais viva, mais real. Hoje, não vejo a religião como um conjunto de regras que preciso seguir cegamente. Vejo como uma jornada pessoal, onde posso aprender, errar, crescer e me conectar com algo maior. E se tem uma coisa que Paine me ensinou, é que a razão e a espiritualidade podem andar juntas — e que acreditar com consciência é muito mais bonito do que acreditar por obrigação.

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