Sigo agora uma jornada diária de encontro com um eu que faça sentido para mim


Durante muito tempo, eu vivi achando que estava fazendo tudo certo. Dediquei 23 anos da minha vida ao ministério pastoral, cuidando das pessoas, ouvindo suas dores, tentando ajudá-las a encontrar paz. Eu acreditava que esse era o meu propósito, que era ali que eu deveria estar. Mas, com o passar dos anos, comecei a sentir um vazio. Uma sensação de que algo estava faltando — dentro de mim.

Eu percebi que, enquanto cuidava dos outros, eu deixava de cuidar de mim. Minha carreira, meus sonhos, até minha família… tudo isso ficou em segundo plano. Eu achava que estava sendo generoso, que estava fazendo o bem. Mas, na verdade, eu estava preso a ideias que não eram realmente minhas. Eu seguia regras muito rígidas, acreditava em coisas que me faziam sentir culpa e medo. Era como se eu tivesse uma voz dentro da cabeça me dizendo o tempo todo o que eu devia fazer, como devia ser, e que nunca era bom o suficiente.

Essa voz é o que a psicanálise chama de “superego”. No meu caso, ele era muito agressivo. Me cobrava demais. E o ambiente religioso onde eu estava parecia reforçar isso — cheio de regras, julgamentos, exigências. Eu achava que ali eu encontraria sentido, que seria aceito, que seria “bom”. Mas, na verdade, eu estava me afastando de quem eu realmente sou.

Foi só quando comecei a fazer psicanálise que comecei a enxergar tudo isso. A terapia me ajudou a entender que eu estava vivendo preso, tentando agradar uma ideia de perfeição que não era minha. E isso foi libertador. Pela primeira vez, comecei a olhar para mim com mais carinho, com mais verdade.

Mas mesmo depois dessa descoberta, ainda carrego algumas sombras. Às vezes me sinto frustrado. Penso que poderia ter feito mais por mim, que poderia estar melhor financeiramente, que poderia ter seguido outro caminho. É difícil não sentir tristeza por tudo o que deixei de viver.

Só que agora eu entendo que esse tempo não foi perdido. Ele fez parte da minha história. Me ensinou coisas importantes. Me trouxe até aqui. E agora, com mais consciência, posso escolher um novo caminho. Um caminho que tenha mais a ver comigo, com o que eu realmente quero e sinto.

Hoje, minha missão é me libertar dessas sombras. Me perdoar. Me acolher. E transformar tudo o que vivi em algo que faça sentido — não só para mim, mas talvez para outras pessoas que também se sentem presas, que também acham que perderam tempo. Porque, no fundo, nunca é tarde para começar de novo. Nunca é tarde para se encontrar.

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